Já deves ter ouvido falar na ideia de que não se podem misturar cristais. Correcto?
Este é assunto que divide opiniões e circula no mundo esotérico como pãezinhos acabados de sair do forno, levando algumas pessoas a evitar combinar pedras com receio de efeitos negativos ou energias conflitantes.
Mas afinal, há verdade nisto ou não?
Vamos explorar este tema.
O mito de que não devemos misturar cristais tem raízes em várias correntes esotéricas e espirituais que tratam das energias sutis. Algumas dessas tradições antigas afirmam que cada cristal possui uma frequência energética única, e misturar vibrações poderia resultar num desequilíbrio ou interferência negativada.
Este conceito de "interferência energética" é semelhante à ideia de que duas notas musicais dissonantes criam uma sensação de desconforto. Para alguns autores e praticantes de litoterapia, defendem que cristais com energias muito distintas – como os calmantes e os estimulantes – podem criar uma "dissonância energética".
Tradições como a Alquimia, que influenciaram fortemente o esoterismo ocidental, e a prática de cura com pedras na Ásia Antiga, como no hinduísmo e no budismo, enfatizam o uso cuidadoso de energias, já que tudo no universo é considerado uma manifestação de vibração. Na Alquimia, por exemplo, os praticantes acreditavam que o uso indevido de energias (incluindo as dos cristais e metais) poderia prejudicar a harmonia natural das coisas. Isso pode ter levado à ideia de que o uso incorreto ou a combinação errada de cristais poderia "anular" ou até criar uma sobrecarga energética.
Com o surgimento do Ocultismo Moderno no século XIX e início do século XX, a popularidade dos cristais cresceu, e várias crenças associadas a eles também se tornaram mais complexas. Movimentos como a Teosofia e, posteriormente, a Wicca trouxeram de volta o uso dos cristais de forma mais popular, misturando princípios orientais com crenças ocidentais.
Nessa época, começaram a surgir mais sistematizações sobre como usar cristais "corretamente". Livros esotéricos de autores dessa era, como Aleister Crowley ou Dion Fortune, sugeriam que energias deviam ser trabalhadas com cautela. Essa abordagem cuidadosa e meticulosa reforçou o mito de que certos cristais poderiam entrar em conflito se usados simultaneamente.
A partir dessas práticas, surgiu a ideia de que os cristais não devem ser misturados sem uma clara intenção ou propósito. Isso foi amplificado pelo aumento da comercialização do esoterismo nas décadas seguintes, que trouxe consigo não apenas o uso dos cristais, mas também um misticismo cerrado que impôs regras restritas – muitas vezes baseadas em interpretações modernas de tradições mais antigas.
Além das tradições espirituais, o mito de que cristais não podem ser misturados também tem um aspecto psicológico. Muitas vezes, somos ensinados a pensar em termos de opostos: calor versus frio, luz versus escuridão, ação versus repouso. Esse dualismo reflete-se na forma como as pessoas vêem os cristais.
Se um cristal, como a ametista, é associado à calma e meditação, enquanto outro, como o citrino, está relacionado à energia e vitalidade, muitos acreditam que essas duas energias opostas podem se anular ou criar um efeito de "confusão energética". Essa visão dicotômica, no entanto, ignora que no campo energético (assim como no campo psicológico), as oposições podem, na verdade, complementar-se.
Assim como a terapia de polaridade (que trabalha com a integração de energias opostas no corpo), os cristais podem ser vistos como ferramentas complementares, em vez de concorrentes. Mas este entendimento mais holístico nem sempre é intuitivo para todos, o que perpetua a crença de que misturar cristais será inadequado e desanconselhado.
Durante o movimento New Age, nos anos 1960 e 1970, os cristais voltaram a ganhar destaque. No entanto, com a disseminação rápida de informações esotéricas simplificadas, alguns conceitos foram completamente distorcidos. Este movimento adoptou uma visão simplificada, banal e comercial dos cristais, e muitas vezes, ao tentar tornar o uso das pedras mais acessível, acabaram por criar regras rígidas e crendices que não existiam nas tradições antigas. Isso incluiu a ideia de que misturar cristais de diferentes propriedades poderia interferir nos seus poderes.
Muitos guias e gurus espirituais populares da época davam listas de combinações "permitidas" ou sugeriam que certas pedras teriam de ser utilizadas sozinhas. Isso reforçou o mito, especialmente entre iniciantes, que se viram confusos sobre como usar cristais de forma adequada sem quebrar essas "regras invisíveis". Infelizmente existem crenças que perduram no tempo e repetidas de forma automática viram uma "realidade"! Isto é factual!
Vejamos as coisas da seguinte forma. Embora o uso de cristais seja essencialmente vibracional, energético e espiritual, é interessante notar que a ciência moderna também nos dá algumas pistas. Os cristais são, de facto, estruturas altamente organizadas que possuem uma vibração energética estável, que pode ser medida pela sua frequência natural. No entanto, não há evidências científicas de que misturar cristais crie algum tipo de conflito energético prejudicial.
A ciência sugere que, assim como várias ondas sonoras ou luminosas podem coexistir e se sobrepor, também as energias dos cristais podem interagir de maneiras complexas, mas não necessariamente problemáticas. Isso reforça a ideia de que, em vez de seguir regras rígidas e impostas, é mais importante sintonizarmo-nos com o que sentimos ao trabalhar com diferentes cristais, visto que cada ser humano é único!
À medida que o tempo evoluiu, começaram a surgir questionamentos sobre a validade dessas limitações, principalmente com o avanço de ideias vindas da física quântica, que sugerem uma nova maneira de entender a interação entre energias.
A física quântica estuda as partículas subatômicas e as forças que governam o seu comportamento. Num nível mais básico, tudo o que existe no universo é composto de energia que vibra em diferentes frequências. Isso inclui tanto o corpo humano como os cristais. A teoria quântica afirma que a matéria, na verdade, não é sólida, mas sim composta de ondas de energia em constante movimento. Nesse sentido, a vibração dos cristais poderia interagir com a vibração do nosso próprio campo energético de maneira mais complexa do que as antigas crenças esotéricas sugeriam.
O conceito de entrelaçamento quântico é especialmente interessante aqui. Ele sugere que, quando duas partículas interagem, elas permanecem conectadas; não importa a distância entre elas. Isso sugere que energias (como as dos cristais) não apenas interagem de maneira local, mas também podem influenciar-se mutuamente a longas distâncias. Logo, a combinação de cristais não resultaria em conflito, mas em interdependência e potencial amplificação de seus efeitos.
Os cristais, sendo formas de matéria altamente organizadas, possuem uma estrutura molecular que lhes permite emitir frequências estáveis. Isto torna-os particularmente eficazes em modular energias ao seu redor. Na física quântica, o que conhecemos como "campo energético" é, na verdade, uma rede complexa de vibrações interligadas.
Quando misturamos cristais, as suas vibrações entram em resonância ou interferência construtiva com o nosso campo energético e entre si. Em vez de causar um conflito energético, como o mito sugere, a física quântica mostra que as vibrações podem se somar ou se complementar, resultando em efeitos mais profundos. Dependendo da forma como essas vibrações se sincronizam, pode haver amplificação ou neutralização de certas frequências, mas raramente um "conflito".
Por exemplo, cristais com propriedades aparentemente opostas – como a ametista (calmante) e o citrino (energizante) – podem trabalhar em harmonia para criar um campo vibracional mais equilibrado. A física quântica sugere que, em vez de se anularem, essas vibrações podem coexistir e atuar em diferentes camadas do nosso campo energético.
Outro conceito relevante da física quântica é o de coerência quântica, que refere-se à capacidade de diferentes partes de um sistema vibrar em sincronia. Se pensarmos no corpo humano e no campo de energia pessoal como um sistema quântico, os cristais que usamos podem ajudar a trazer coerência para esse sistema. A coerência significa que diferentes frequências – ou energias de diferentes cristais – podem ser integradas de maneira harmoniosa, resultando num estado de maior equilíbrio.
Isso sugere que a chave para trabalhar com múltiplos cristais não é evitá-los, mas sim compreender como essas energias interagem e ressoam com o nosso campo energético. Ao ajustar a forma como usamos diferentes cristais, podemos atingir um estado de maior harmonia, em vez de gerar conflitos energéticos.
Desta forma, e à luz da teoria da física quântica, o mito de que não podemos misturar cristais perde força. A ciência sugere que energias não entram necessariamente em conflito, mas sim que elas podem interagir de maneiras surpreendentemente positivas. Se os cristais emitem vibrações constantes, a interação dessas vibrações não é diferente de uma orquestra de frequências, onde cada instrumento (ou cristal) toca uma nota específica. Quando sintonizados corretamente, criam um campo de energia sinérgico e coerente.
O mais importante é percebermos que o efeito dos cristais não depende apenas da vibração individual de cada pedra, mas sim entender a forma como interagem com o nosso campo energético. Isso leva-nos a uma conclusão importante: misturar cristais pode, na verdade, intensificar e equilibrar energias, ao invés de gerar problemas e conflitos energéticos.
Embora a física quântica nos forneça uma base científica para entender a interação de energias, a nossa intuição continua a desempenhar um papel importante e principal no uso de cristais. Esta mostra-nos que o observador afecta o objeto observado – o que significa que a nossa intenção e consciência influenciam e ditam em última análise como as energias interagem. Ao trabalhar com cristais, o acto de definir uma intenção consciente pode modificar a forma como essas energias nos impactam.
Portanto, não há uma combinação "errada" de cristais.
Se a tua intuição te guia e oreinta para misturar certos cristais, é possível que esse seja o alinhamento energético perfeito e ideal para ti nesse momento. O nosso campo quântico reage à nossa consciência, o que torna cada experiência única. E isso é o mais importante.
A prática do uso de cristais é, antes de mais, uma jornada pessoal, intimista e intuitiva. Experimentar combinações e sentir como elas impactam o teu corpo e a tua mente é o que realmente importa.
Os cristais são efectivamente ferramentas poderosas, mas eles funcionam de forma colaborativa, e nunca competitiva.
Em vez de temeres a ideia de que misturares pedras e cristais diferentes, abraça a ideia de que, assim como as energias na natureza se misturam de forma harmoniosa e bela, os cristais podem trabalhar contigo em harmonia para proporcionar cura energética, protecção e equilíbrio.
Espero que esta versão, com uma abordagem mais quântica, te traga mais expansão de consciência!
Abraço Cristalino!